A fotógrafa Roberta Montagnini usa a arte para tocar em um assunto difícil que tem sido lidar com a dor da perda daqueles que amamos e compara profissionais da saúde a soldados em campo de batalha.
Todos os dias são como uma batalha, uma grande luta contra as adversidades. Agora, mais do que ‘matar um leão por dia’, estamos cercados pelo inimigo invisível da covid-19. E em meio a esta pandemia que mais lembra um campo de batalha, muitos trabalhadores de serviços essenciais como profissionais da saúde e de abastecimento e logística, saem de suas casas e se expõem a esta ameaça para que a sociedade consiga minimamente manter o seu ritmo de vida e se proteger.
A fotógrafa brasileira radicada na Alemanha Roberta Montagnini, vencedora de prêmios internacionais e referência em fine art, usou de sua arte para dialogar sobre a dor. A imagem forte que está sendo compartilhada nas redes sociais, mostra o sentimento da artista diante dos dias difíceis que vivemos: “essa imagem foi criada para lembrar da dor das jovens mulheres que perdem seus maridos durante a guerra, mas pode muito bem refletir a situação que vivemos hoje, onde famílias esperam por seus entes queridos que estão combatendo o novo coronavírus, cuidando das pessoas e dos serviços essenciais, correndo riscos com a própria vida.”
Experiência vivida
Roberta escolheu a alegoria de um militar para dialogar sobre a dor da perda baseada na sua própria experiência: “Eu sou casada com um militar e vejo muitas histórias tristes de esposas que perdem seus maridos, muitas vezes grávidas ou com filhos. Queria retratar a dor e o desespero de quando se perde alguém especial. Cada um dialoga sobre a dor a partir de sua própria ótica e a arte serve para tocar na alma e fazer-nos refletir sobre a vida.”
A taxa de letalidade entre profissionais de saúde por covid-19 no Brasil é uma das mais altas em todo o mundo, ultrapassando inclusivamente os Estados Unidos, o país com mais mortes, e Itália, o segundo com mais óbitos na Europa. A falta de material de proteção e medo de represálias, caso saiam da linha da frente, já levou à morte de centenas de profissionais de saúde, diz o Conselho Federal de Enfermagem.
Incertezas para o futuro em debate
A artista também aponta que todos nós estamos incertos quanto ao futuro pós pandemia, assim como as mulheres que perdem os maridos para a guerra: “Essa mulher que representei nesta arte está grávida, o que pode também significar a esperança de uma nova geração e de um futuro melhor, mas também um futuro incerto de uma criança que jamais conhecerá o pai. E isto pode ser reinterpretado baseado nas nossas incertezas para o futuro do mundo pós pandemia.”
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